Heishiro - Na beirada do mundo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011
O sorriso percorria sua face pelo material esbranquiçado da máscara que encobria seu rosto, o branco gelado de sua face era tão falso quanto o tão aclamado frio que habitava seu coração.
Pois de calor vivia sua paixão, pelo mundo à sua frente, pela cidade abaixo de seus pés, que lhe falava como uma aberração, entre gunhidos e gritos que, embora não entendesse, se convencia a adorar.

Agaixava-se, perplexo, olhando as luzes piscarem como que se cantassem do fundo de seu coração, uma música em forma de súplica e tensão, de todos os seres tímidos e solitários, gritando por atenção, em vão.
Falhos como todos eram, imperfeitos como todos tinham de ser, mas Heishiro não se abalava, apenas contemplava com o canto dos olhos e o fundo da mente, o que tornava aquele conjunto de vidas algo tão deprimente.

Então deixou-se levar pela lei que a todos governava e da beirada do mundo caiu, sentindo o vento rasgar a sua proteção, a sua defesa, a sua razão, limpando o rosto do garoto da decepção, abrindo seus olhos para a emoção, tão presente diante do seu ser, como uma brisinha feita de prazer, calma, quieta mas impaciente.
O chão parecia não ser, como uma almofada, refugiando todo seu peso em plumas leves como a seda, e ele se aproveitava do toque delicado da sua própria fundação, da base rija e  gentil que chamava de chão, para se apoiar, ajoelhar, levantar.

E de lá que observava, sem uma única questão, a cidade, esbelta, profunda, escura, dura e cruel que chamava de paixão. Não era mais um tímido garoto, não mais escondia seu rosto, tinha agora que sair de onde estava, em frente caminhar e na cidade adentrar, como um homem a enfrentar o mais medonho dos monstros, sem um pingo de piedade no olhar.

Pois não tinha o que mais imaginar, com aquela obscura cidade a o vigiar.
Heishiro sabia que precisava crescer e deixar de lado toda a melancolia que alimentara por anos à fio com o pouco que da vida arrancava.

Que deixaria de lado a máscara e a faca, e passaria a viver com as traças.
Nada mais o intimidaria novamente.

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