Bioshock

terça-feira, 26 de julho de 2011
Pinga líquido de suas fendas, escorre óleo de suas entranhas, deixado para apodrecer como homem uma máquina estranha. Vendo o mundo em cores escuras pelos reflexos que captura em seu aquário, homem preso dentro de máquina presa dentro de homem, não é um ou outro, sequer a sua combinação, é cria de um amor profundo e só sabe mostrar essa devoção, deriva do humor negro do seu criador, tão perverso em seus meios como nobre em seus fins, a melhor das intenções casada coma  pior das execuções, sonho tornado pesadelo, espalhando maldade por cada canto, o dia inteiro.

E a água o envolve, num eterno deboche, onde ele pode vê-la, deve desejá-la mas nunca tocá-la, uma verdadeira mulher, uma senhora vadia, brinca com tudo o que sente e manipula aquela casca de um ser que outrora só teve olhos para a filha, cria de outro ser que adotara sem uma palavra dizer, guardião por definição, pai por profissão.
Sua vida talvez seja de todas a mais patética, o corpo trêmulo, barulhento, o humor de lua, passa da calma para a loucura com um piscar de olhos e segue em caminho à própria morte sem questionar seu propósito, ora, porquê o faria se ao não fazê-lo já o cumpre?
Não é diferente de muitos do seu tempo, vários dos nossos dias, tolos inaptos, inconsequêntes que ao fechar os olhos dormem com o barulho dos seus próprios atos, frutos da falta de conhecimento e a inevitável estupidez, arrogantes seres jovens e antigos, nenhum com a nobreza da máquina em perigo.

Pois ele tem um oceano sobre os ombros, e só ele consegue ver o quão o mar é inconsistente, tenebroso, cruel, insosso, como é mágico viver onde vive e quão incrédula é a sua realidade, bidimensional, rasa, porém, de fato, sua, o seu caminho para andar, de mãos dadas com a criatura que é programado para amar, por corredores e salas, sem nunca parar, não importa quantas porcas se soltem de seu corpo, quanto a ferrugem esteja a lhe comer, sua mente não se importa nem um pouco, e muito fiel é ao não fazer.

Não se importava em viver entre o hoje, o amanhã, o presente e o passado, para ele, o tempo havia parado e as grandes memórias que um dia conseguiu, ele mesmo destruiu,uma a uma, esmagadas, estraçalhadas, corrompidas, deturpadas, o mundo não fazia juz à beleza do seu sonhar, que tampouco agora, feito de parafusos, parava de realizar.

Já que a luz que refletia em seu aquário era justamente o único lugar que ainda podia olhar.

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