Além do Bem e do Mal

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Lantejoulas num lugar comum de neon, uma placa que brilha com luz e som, emitindo uma aura que reluz na indiferença do concreto, absoluto sobre todo e qualquer sentimento.

Nos últimos sessenta dias os murmúrios chorosos foram ouvidos por vales, montes e montanhas, casas de madeira, cabanas e apartamentos, fosse no campo, na terra ou na selva de pedra, as palavras ecoaram sob sol e chuva, por entre crianças, adolescentes e adultos que passavam frio ou calor, fosse o sol impiedoso ou estúpidamente relapso, fosse a lua presente ou apenas ausente, estivesse o vento contra ou à favor.

Em noites quentes e dias gelados, baladas, bares, casas e praias as palavras ecoavam um tilintar gostoso de se ouvir que a cada instante iam tocando com as descobertas do tempo, das areias da praia da mente, cujo mar é tão calmo e sereno...  Uma dádiva depois de dias e dias de tempestade intermitente, depois de tórridas correntes que pareciam intermináveis para a mente de um bobo sonhador e carente. Que o arco-íris seja quase permanente, tão claro quanto a lua azul ou o sol poente, tão interessante quanto a cabeça de tanta e tanta gente, que seja a bênção da descoberta luz para o brilho de todo dia e cada noite, que nela repousem sonhos e planos, já que apenas ela tem a capacidade de iluminá-los.

Nas salas escuras foram contadas histórias e no hall claro cada uma delas foi intrínsecamente discutida, dessecada aos últimos detalhes em busca da sabedoria contida nas nem sempre tão óbvias mensagens, entre amigos e companheiros, familiares e forasteiros, divididas como passos pequenos de uma criança a ser observada, como que se algo tão pequeno pudesse em algumas horas disseminar uma infinidade de conhecimento, vinda de todo canto do mundo, um aglomerado de culturas e desejos trabalhando para uma só causa e efeito, um som estridente direcionado à um ser que ali não está presente...

Ah, a ovação, tão desnecessária mas tão precisa, tão atraente, uma forma explícita de um furor incendiado, um calor extremo e direcionado de um sentimento que motiva os mais incríveis atos, uma conexão inexplicável entre quem sente e aquele que faz sentir, mencionado em emoções, palavras e, principalmente, ações. Fosse esse o único resultado de trinta dias de caminhada, não estaria aqui outro muro de palavras enxugadas, enxutas da razão e da sensibilidade proveniente do contato com a mão. Fosse esse o único pormenor, não seria a vida tão bela e revoltante, tão cheia de amigos e amantes, tão rasa nas palavras e acima de tudo, não seria a vida essa criatura tão presente e, ao mesmo tempo, tão distante.

Quando eu mesmo vivia a ilusão de fazer o meu próprio caminho era comum me encher de falsos motivos e razões, mas veio um tempo negro e a força fez aquilo que podia fazer. E já que eu não sou mudo, hoje eu canto muito mais.


I'll always be...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Chuva de verão que assola o solo a todo dia, criando do barro lama para tornar escorregadio o caminho de todo o que se julga firme, é como o calor que em seguida aparece, fugindo do reino do crível na sua busca, sua ornada numa busca insólita pela solidez do firmamento.
Acontece que ao som não se presta contas, que o loiro aguarda como uma hiena, histérico em seu caminho e resoluto em sua decisão, com os olhos fechados numa pronta admiração, não deixando-se cair pelo que tende a lhe atropelar.

Frio como rocha, ríspido como pedra, o coração põe-se resolvido em um ponto que foge à razão, um fogo gelado que brilha em prol de mil condições, de letras e jargões, frases feitas em raros clarões, de uma luz cegante que muda o curso das águas onde quer que passe. Verdade seja dita, as boas histórias não foram feitas para serem escritas e sim contadas, e a dele está muito bem guardada, presa numa corrente que, pesada, não cessa de existir, não cessa de insistir, faz-se por meio de um emaranhado de emoções desordenadas, uma prole maligna de reações e memórias de um tempo existente apenas enquanto passado.

E vê por vezes sua alma deixar o corpo, sua essência largar a casca, sua vontade ficar aos ares, seu desejo tardar a sair dos mares, deixando a criatura a juntar os pedaços com os braços largos, montando aquilo que outrora lhe era dado como uma nova forma, desmontando e remontando, refazendo o corpo enquanto desfaz o emaranhado, briga com a mente e luta com o que sente, explora o novo e luta com o velho, renega ao que era e se entrega ao que é, buscando nisso tudo aquilo que um dia será, como um cego procurando uma sombra. Não aceitando a própria melancolia ou deixando fugir a harmonia alcançada, a paz duradoura que toma seus olhos esverdeados.

E o garoto loiro torna a olhar para as nuvens, procurando entre elas o sol que dá início ao verão, enquanto sente sob a chuva o abraço carinhoso dos céus a refrescar seu ser, acalmar seu âmago e, finalmente, lhe deixar ser.