IDOLA - The Holy

quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Obsessão incandescente, calor divergente, vento que espalha o fogo, impertinente, incoerente, põe em chamas o feno que a cada canto do mundo corre, faz-se confuso início e fim, faz de tolo o apaixonado garoto, tortura, caçoa, o empurra para o fogo da paixão enquanto este se segura no que lhe resta de seguro em seu ser, como que a uma rocha se agarrasse no desespero da solidão, rocha que um dia pensou ser e descobriu ter vivido para a verdade triste ver.

Pois num redemoinho viu seu mundo cair, olhando à divindade tão cultuada que naquele momento nada podia fazer. A culpou, se culpou, em sua fúria a rocha despedaçou enquanto um frenesi, fanático e cego, o consumia ao ponto que até à divindade sua mão se torcia, num gesto vindo de uma consciência decaída e um coração batido.

E o garoto se via sem cores, apenas um preto no branco, via-se gigante, faminto, raivoso, devorava tudo que via, destruía o que tocava, fazia do forte fraco, quebrava armaduras, desfazia carapaças, seus feitos eram cada vez mais depreciativos e quando o amor foi tentar cultivar, viu-se com mãos tão grandes que só sabia esmagar.

Gritou, exprimiu toda a raiva que subia à sua mente, libertou os demônios que controlavam quem queria ser, viu no reflexo da alma o garoto que um dia foi, viu no brilho do garoto a pessoa que queria ter e, por fim, viu-se falando sozinho, sem destino, sem esperança, com mãos desgastadas, o corpo deformado e as idéias, escassas, sua língua parecia querer engolir as palavras que desejava proferir, aos céus não podia pedir perdão, à terra não podia oferecer a mão, esta tinha medo do que ele era.
Magoado, aprendeu a viver como era, longe do que respirava, perto do que apodrecia, se conformara com sua situação e estava a se adaptar ao novo mundo velho, um cheio de temores e tumores.

Nos cantos escuros respirava o ar húmido que circulava, seus olhos vermelhos brilhavam, assombrosos. Espantava tudo e todos que o viam, até mesmo aqueles à quem, em busca de compreensão, seguia.
Talvez porquê o gigante, embora ciente do que era, não sabia que aquele ser retraído e medroso que se tornara, com medo dos seres tão pequenos que o rodeavam nunca seria aceito se continuasse a se marginalizar, para que fosse compreendido teria antes de tudo que a si aceitar.

E tratou de depois de muito tentar, aprender o que deveria ser para que pudesse crescer, até mesmo uma outra chance teve, enquanto o mundo girava e ele viajava, acabou por encontrar quem outrora o fez tão intensamente se apaixonar, mas não sabia como seria dessa vez, quem ele havia se tornado e com quem ela havia andado, não deixaria nas mãos do tempo a decisão de um destino tão impecável.

Não se sabe qual fim teve o gigante dos olhos vermelhos, dizem os felizes que um dia aprendeu a viver onde o sol brilhava, encontrou por fim àquela que o amava e deixou a insegurança de lado.
Já os tristes preferem acreditar que não importa o quanto tentasse, a vida não o deixara encontrar novamente a felicidade, preço pelos pecados da sua mortalidade.

Verdade seja dita, sua casa hoje é uma cabana contente na terra da maldade, de onde não deve sair mas onde soube como ser feliz.

Da Cultura

quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Essência de civilizações e de tudo que nos permeia, base para nossos costumes da cabeça até as meias, um grande mecanismo, puro, intocável porém mutável, consequência do tempo e de nossos atos, do girar da engrenagem corroída que com nosso suor fazemos, sem exceção, girar.
Velho, novo, pequeno, grande forte ou fraco, cada um contribui com sua força à mãe Cultura e ela lhes retribui com costumes e atos, mantidos e retirados para o gosto e o desgosto popular, sendo esse sempre aquele a mandar, ainda que sob algumas influências, no andar da nossa carruagem.

O capitalismo, comunismo, movimento popular da cultura do melhor vendido, mais bonito, estético, belo se pudesse eu levemente blasfemar, quiçá reclamar. De que podemos reclamar se, no fim das contas, da nossa visão sem compreensão é que floresce as coisas que tocamos? Se o barato vende só o faz porquÊ há quem compre, se o produto encarece só o faz pela ação de muitos ou poucos, que, direta ou indiretamente apoiamos, numa sensação de prisão e falta de opção quando, no fundo, controlamos tudo isso com a palma da mão, numa discussão que só vai acabar quando o ser humano realizar que sua evolução jaz justamente nos braços da expansão da visão, da compreensão.

E num mundo particularmente utópico não seria difícil ver o fim dos conflitos, dada a então capacidade humana e individual de não se fechar no próprio mundinho e sim entender o drama da existência alheia, quando finalmente o egoísmo voltar a ser um ponto num cantinho escuro de nosso quarto, visível porém pouco significante, companheiro tal qual todo sentimento.
Quem sabe o mundo seja então feito de filósofos que possam colocar em letras as realizações de sua consciência, tal qual grandes cantores o fizeram em tempos antigos, num cantar que mais que comover, fazia retratar um quadro muito maior do que poderiam imaginar, uma extensão da cultura, da raíz, do passado, presente e um imaginável futuro em ritmo, tom e melodia.

Um longo caminho, com certeza, de pedras, arranhos e vinhas, madeira, metal, concreto e sol, amarelo, cinza ou vermelho. Árduo mas necessário, que existame sempre os que lutem a boa luta, que compreendam a marcha e não se limitem a tocar em frente, que possa distinguir as massas das maçãs, com amor, paz e chuva.

Para que não fiquemos eternamente presos nessa velha "Highway"