Long Way Home

terça-feira, 4 de agosto de 2009
Numa noite tão escura quanto outra qualquer, passava um garoto por um parque; Lugar de pouca significância e pessoa de significado parecido, era um garoto num parque numa noite de verão, com uma blusa fechada, mãos nos bolsos, capuz sobre o rosto e música em seus ouvidos, pensando sobre seu passado.

Fugíamos.
"Do quê?"
Responsabilidade, pessoas, coisas ruins; Éramos jovens, tínhamos medo de crescer, medo de deixar ser, medo do tempo passar e... muito medo, de começar a importar.

Sentava num banco, quase iluminado, repousava a cabeça com um desejo de se livrar daquela música, mas aquilo era a única coisa que ainda o acompanhava, a música e seus pensamentos eram dois eternos companheiros, não fosse que um dia seus pensamentos o traíram, fugiram para outro lugar.

"E você não foi junto?"
Fui, fui muito tempo antes disso tudo começar eu penso, fui quando era jovem, quando desejava achar uma terra onde não mais fosse crescer.
Sabe... o problema de se apaixonar é aquele desejo sorrateiro de fazer o tempo parar.
A frustração única em falhar, a raiva doente de um coração que não se pode curar.
A gente acha que algo vai ter muita importância, que um dia vai ser perfeito e... nunca é, nunca tem.
Não que seja ruim, pelo contrário, essa imprevisibilidade da vida faz tudo melhor.

Em noites solitárias a vontade dele era sempre a de ir ver a cidade, só. Ir ver as luzes, imaginar uma aventura... se perguntava se não iria conhecer alguém, alguém diferente, alguém inibriante... alguém que finalmente fosse tirar ele de lá.

"E achou?"
Não, não achei. Foi-se embora, esvaiu-se pelos meus dedos como o fumo e nunca mais voltou.
Aquela aventura, aquele desejo... foi só daquela vez.
Vivi cada dia esperando sentir tudo denovo, esperando uma surpresa que sabia que não viria.

Alguns dias me perguntava porque a vida parecia uma catástrofe, e achar as respostas pra essa pergunta, ou as ilusões que achava serem as respostas, me fizeram crescer demais.
Irônico, não?

Levantou-se e foi embora, queria explorar, conhecer, pensar.
Sabia que em casa não se deixaria tirar momentos para si mesmo.
Era só, nem que estivesse em meio a uma multidão; E deixar-se pensar só perderia mais tempo que ele já não tinha.
Naquele momento decidiu, pela primeira vez, fazer algo por si mesmo, pegar o caminho mais longo para casa, olhar os anos passados e pensar o que poderia ser, o que poderia ter sido, se ele simplesmente tivesse mais tempo.

Ah... vejo que voltaram...
"É... demorou, não?"
Pena que está frio... frio até demais...
"Mas pelo menos agora você pode visitar eles..."
Acho que sim... Será que ficarão felizes?
"Vão chorar, com certeza... ainda é cedo demais pra fazer-lhes uma visita."
Duvido que... meus anjos estarão tristes em me ver...

E ali acabava sua conversa, a última conversa que teve consigo mesmo e, de fato, a última conversa que teve.
A vida dele tornou-se fumo no momento que descobriu... que seus sentimentos haviam voltado a si.
No dia seguinte mal chegaria a algum jornal, era apenas mais um garoto que, numa noite solitária de verão, perdia a música e a vida nas mãos de algum marginal.

O problema de se pegar o caminho mais longo para casa é que... não se tem a quem culpar se o dia chegar ao fim e você não estiver mais por aqui.

0 comentários:

Postar um comentário