Chuva...

sexta-feira, 26 de março de 2010
Sem canções, sem menções, chuviscos desanimados num dia de céu acinzentado, fim de tarde quentinho, abafado.
Pés no chão, mochila nas costas, mãos na cabeça.
Tira a camiseta, coloca a blusa, guarda mochila, olha a chuva, pega as chaves, abre a porta, fecha a porta, desce pelas escadas, volta, destranca a porta, pega o mp3, tranca novamente, desce, pronto, tempo parou.

Abotoa a blusa, sobe o gorro, coloca o mp3 num bolso, chaves no outro, dá um "Boa Tarde" pro porteiro, sai pela porta.

Atravessa a rua, olha o sinal, passa correndo, sem tempo nem para um "tchau".
Respira fundo, olha o céu... ainda cinza, ainda escurecendo, ainda chovendo.
Pingo na lente do óculos, pingo na maçã do rosto, sorriso abobalhado, alegria de quem vive no passado.


Caminhando em passos pequenos, com a mente presa no tempo, o caminho se faz cada vez mais molhado, mas nada que encomodasse. Chuva de Verão.
Pessoas com aparência de dia de chuva, cansadas, desanimadas, doídas, apressadas, normal, comum, feliz até.

Entra no supermercado, blusa molhada e mp3 no bolso, fone no ouvido e cesta na mão, fazendo a escolha de pequenas coisas contando com o calor do coração.
Chocolate, pão, sucrilhos, arroz, feijão, água?
Não, leite.
Fila pra pagar, momentinho de esperar, esperar pra ver se o tempo volta a correr ou se ao menos o caixa do lado começa a esvaziar.

Pronto, item a item, código a código, dados estranhos e números somando uns aos outros, maquinação da automação, facilitando o processo de evolução, filosofia essa do caixista e do empacotador, únicos elementos humanos ali.

~

"- Boa tarde.
Boa Tarde, Cliente Mais?
- Não.
Nota Fiscal Paulista?
- Também não.
37,90, Senhor.
- Débito por favor.
Pode colocar a senha.
- Pronto.
Muito obrigado.
- Eu que agradeço, de verdade."

Ato de pegar as compras, ajeitadinhas e arrumadinhas, agradecer o empacotador que parecia mais jovem que eu e sair para a chuva, um pouquinho mais forte, resolver o que faltava: O presente.

Andar, andar, sacolinhas na mão, ver se a lojinha ainda estava aberta, àquela hora, naquela chuva.
Sorte!

"- Oi tio!
Oi
- Dois reais, né?
Isso.
- Com mais sete...
Nove.
- Ah, pode ficar com o troco, tá chovendo e eu tou meio sem bolso.
Não, que isso, pega ao menos um pirulito, alguma coisinha assim.
- Pode ser esse de laranja?
Claro.
- Brigado, tio.
Olha, tem mais revistas, uns mangás ali, se você quiser ver...
- Eu passo aqui todo dia no caminho pra escola, segunda eu olho com mais calma que tou com medo da chuva apertar, aí ja viu, né?
Certo certo, até então.
- Tchau, tio."

Pronto, missão cumprida e agora é só voltar, LP debaixo do braço e revistinha do Batman na mão, esperando que não molhe durante essa chuvinha de verão.

1 comentários:

Kah disse...

Kd o próximo?
Saudades ^^

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