Heishiro - Pensamentos na calçada.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010
A chuva caía, molhando seus cabelos.
Sentada à sua beirada, estava a calçada, imponente e cinzenta, o granito que deixava os pingos escorrerem, sem objeção, a se juntarem na sarjeta, uma bela união.
Em cada um existia para ele uma memória, uma reflexão, pedaços de tempo que se incrementavam como a própria água ao cair, ao se esparramar e, finalmente, ao se unir, ao se juntar.

E como uma pequena poça que na rua estava, o garoto deitou sobre sua companheira, a calçada, a olhar para o céu acinzentado, para os prédios imponentes, para quem neles trrabalhava, lavando as janelas num fútil exercício, numa ação banalizada.
Contemplava o significado das coisas, daquela tão pura água, da maneira que as nuvens faziam ao se mover, ao deixar limpar aquilo que segurava a alma, ao deixar o vento varrer, ao deixar, num dia que era antes tão ensolarado, choever.

Uma gota acertava sua face, errando por pouco seu olho; Escorria, vagarosamente por seu rosto, semblante sutil, desconhecido, comum, incomum.
Se o cabelo molhado era um atentado ao anônimato, o rosto molhado e a posição inusitada eram um atendado à própria inclusão naquela sociedade.
O que lhe fazia aparecer num dia que ninguém tinha o que fazer.

No fundo, Heishiro não era diferente de nenhuma daquelas gotas, sua vida não deixava de se escorrer pelos caminhos do tempo, onde este era apenas o que sempre fora, observador.
Tomava notas, via detalhes, guardava pensamentos atrás de chaves e chaves, eternamente a observar, comportamentos, diálogos, monólogos e momentos de clareza e escuridão, muros e paredes, ondas e redes, útil e agradável, inútil e afável.

Não tinha planos de se levantar, aproveitava a chuva fina com o que tinha a lhe proporcionar, o fim do calor, o fim da dor, a limpeza da impureza, a chave de sua tristeza.
E no fim, apenas aguardou, que a chuva parasse ou que o tempo passasse, para Heishiro, já não havia mais diferença.

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