Acontece que ao som não se presta contas, que o loiro aguarda como uma hiena, histérico em seu caminho e resoluto em sua decisão, com os olhos fechados numa pronta admiração, não deixando-se cair pelo que tende a lhe atropelar.
Frio como rocha, ríspido como pedra, o coração põe-se resolvido em um ponto que foge à razão, um fogo gelado que brilha em prol de mil condições, de letras e jargões, frases feitas em raros clarões, de uma luz cegante que muda o curso das águas onde quer que passe. Verdade seja dita, as boas histórias não foram feitas para serem escritas e sim contadas, e a dele está muito bem guardada, presa numa corrente que, pesada, não cessa de existir, não cessa de insistir, faz-se por meio de um emaranhado de emoções desordenadas, uma prole maligna de reações e memórias de um tempo existente apenas enquanto passado.
E vê por vezes sua alma deixar o corpo, sua essência largar a casca, sua vontade ficar aos ares, seu desejo tardar a sair dos mares, deixando a criatura a juntar os pedaços com os braços largos, montando aquilo que outrora lhe era dado como uma nova forma, desmontando e remontando, refazendo o corpo enquanto desfaz o emaranhado, briga com a mente e luta com o que sente, explora o novo e luta com o velho, renega ao que era e se entrega ao que é, buscando nisso tudo aquilo que um dia será, como um cego procurando uma sombra. Não aceitando a própria melancolia ou deixando fugir a harmonia alcançada, a paz duradoura que toma seus olhos esverdeados.
E o garoto loiro torna a olhar para as nuvens, procurando entre elas o sol que dá início ao verão, enquanto sente sob a chuva o abraço carinhoso dos céus a refrescar seu ser, acalmar seu âmago e, finalmente, lhe deixar ser.